Reconhecer Cristo no pobre
Queres honrar o Corpo de Cristo? Então não o desprezes nos seus membros, isto é, nos pobres que não têm que vestir, nem o honres no templo com vestes de seda, enquanto o abandonas lá fora ao frio e à nudez. Aquele que disse: «Isto é o meu Corpo» [1], e o realizou ao dizê-lo, é o mesmo que disse: «Porque tive fome e não me destes de comer» [2]; e também: «Sempre que deixastes de fazer isto a um destes pequeninos, foi a mim que o deixastes de fazer» [3]. Aqui, o corpo de Cristo não necessita de vestes, mas de almas puras.
Deus não precisa de vasos de ouro, mas de almas que sejam de ouro. Que proveito resulta de a mesa de Cristo estar coberta de taças de ouro, se ele morre de fome na pessoa dos pobres? Sacia primeiro o faminto, e depois adornarás o seu altar com o que sobrar.
Fazes um cálice de ouro e não dás um copo de água fresca? [4]. Pensa que se trata de Cristo, que é ele que parte errante, estrangeiro, sem abrigo; e tu, que não o acolheste, ornamentas a calçada, as paredes e os capiteis das colunas, prendes com correntes de prata as lâmpadas, e a ele, que está preso com grilhões no cárcere, nem sequer vais visitá-lo? Não te digo isto para te impedir de tal generosidade, mas exorto-te a que a acompanhes ou a faças preceder de outros actos de beneficência. Por conseguinte, enquanto adornas a casa do Senhor, não deixes o teu irmão na miséria, pois ele é um templo e de todos o mais precioso.
[1] Mt 26, 26; [2] cf. Mt 25, 35; [3] Mt 25, 42.45; [4] Mt 10, 42.
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