"Da parte dos pobres - Teologia da libertação, teologia da Igreja": superar preconceitos, lançar novas reflexões
Gutiérrez (n. 1928), que entrou na ordem dos Dominicanos em 2001, escreveu, juntamente com o arcebispo alemão Gerhard Ludwig Müller (n. 1947), prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, o livro "Da parte dos pobres. Teologia da libertação, teologia da Igreja", editado em Itália pelas Edições Messagero.
«Nestas páginas – escreve Gutiérrez no primeiro capítulo – pretendemos apresentar algumas considerações sobre como vemos o papel atual e as tarefas futuras da reflexão teológica na vida da Igreja presente na América Latina e no Caribe».
E especifica mais adiante o arcebispo Müller: «Qualquer teologia deve partir de um contexto. Mas com isto a teologia não se espalha numa incomensurável suma de teologias regionais.»
«Cada teologia regional deve, ao contrário, ter já em si mesma uma vocação eclesial universal» e as questões apresentadas pela teologia da libertação são «um aspeto imprescindível de cada teologia, seja qual for o quadro socioeconómico que circunscreve o seu espaço», sustenta o também presidente da Comissão Teológica Internacional e da Comissão Pontifícia Bíblica.
Com um papa do «novo mundo» latino-americano, escreve por seu lado Ugo Sartorio na recensão ao livro publicada na mais recente edição do jornal do Vaticano, "L'Osservatore Romano", «a teologia da libertação não podia permanecer por muito tempo na sombra sob a qual tinha sido relegada há alguns anos, pelo menos na Europa».
A teologia da libertação foi «posta de lado por um duplo preconceito: o que ainda não metabolizou a fase conflitual de meados dos anos Oitenta, aliás enfatizada pelos média, e faz dela uma vítima do Magistério romano; e o que persiste na rejeição de uma teologia considerada demasiado de esquerda».
O livro, prossegue Sartorio, não é só um contributo à superação de clichés e preconceitos ideológicos: com efeito, a sua leitura requer importantes reflexões, capazes de integrar e revitalizar perspetivas muitas vezes incrustadas.
É importante recordar como a reflexão teológica latino-americana não é minimamente um fenómeno unitário: de facto, hoje, caracteriza-se por correntes até muito diversificadas. Portanto, graças à teologia da libertação que tem no seu centro os pobres («os preferidos de Deus»), a Igreja católica pôde incrementar ulteriormente o pluralismo no seu interior.
O diálogo entre Gutiérrez e Antonelli realiza-se no âmbito do 23.º Congresso Nacional da Associação Teológica Italiana.
L'Osservatore Romano
Edição: Rui Jorge Martins in SNPC | 04.09.13
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