O artista que escolheu gente comum para encarnar personagens da Bíblia
Caravaggio recorria a pessoas comuns das ruas de Roma (e dos outros sítios por onde passou) para retratar Maria e os apóstolos. A sua inspiração estava entre os comerciantes, prostitutas, marinheiros e todo o tipo de pessoas que não eram de nobre estirpe.
A obra de Caravaggio
Grande parte da sua pintura foi de cariz religioso (ou sacro) - a maioria dos seus mecenas foram homens da Igreja que, conhecendo um pouco do mau génio do pintor e da sua conduta de vida, não deixaram que o "julgamento" sobre as suas acções o impedissem de trabalhar para esta instituição.
É impressionante como as personagens que habitam as suas telas emanam a humanidade e a realidade da vida comum das pessoas, e como o artista consegue "construir o sagrado" a partir do "humano", ou seja, como consegue compreender o mistério da Encarnação divina e do amor de Deus pelo homem e pela mulher (o próprio Jesus escolheu rodear-se de pescadores, pecadores, pobres e prostitutas).
O artista levou este princípio estético às últimas consequências, a ponto de ter sido acusado de usar o corpo de uma prostituta apanhada morta no rio Tibre para pintar A Morte da Virgem. Esta foi uma das duas mais importantes características das suas pinturas: retratar o aspecto mundano dos eventos bíblicos, usando o povo comum das ruas de Roma.
Outra característica marcante foi a dimensão e impacto realista que ele deu aos seus quadros, ao usar um fundo sempre raso, obscuro, muitas vezes totalmente negro, e agrupar a cena em primeiro plano com focos intensos de luz sobre os detalhes, geralmente os rostos - uma abordagem quase cénica ou teatral dos acontecimentos representados. Este uso de sombra e luz é marcante nas suas telas e atrai o observador para dentro da cena - como é tão claro em A Ceia em casa de Emmaus. Os efeitos de iluminação que Caravaggio criou receberam um nome específico: tenebrismo.
Caravaggio reagiu às convenções do Maneirismo e opôs a elas uma pintura natural, directa, e até mesmo brutal e crua que, pela sua franqueza, renovou até a mera natureza morta (Cesta de frutas - 1596), as cenas profanas (Baco, 1593-1594) e os temas religiosos (Descanso durante fuga para o Egipto, 1594-1596).
No fim do Renascimento, os grandes mestres caminhavam para uma visão mais obscura e realista das escrituras sagradas. Caravaggio pintou versões próprias desses temas - A conversão de São Paulo, a caminho de Damasco e Crucificação de São Pedro - que ilustram como foi capaz de igualar, e até superar os seus mestres.
A própria vida do artista, entre conflitos e fugas, terá imprimido e inspirado muito do sofrimento representado nas suas obras. Na obra de Caravaggio, a beleza do ser humano é posta à luz nas suas formas, volumes e corpos. E é uma beleza que não se abstém do feio, do vulgar, da dor, do sofrimento, da violência, da velhice, da luta interior, dos vis sentimentos: é uma beleza amassada com a dureza da vida.
Curiosidade:
A 10 de Novembro de 2006, um quadro do pintor, parte da colecção da Rainha Isabel II de Inglaterra, foi autenticado depois de seis anos de análise tecnica. Até então, fora considerado uma cópia.
Mensagem escrita a partir de informações encontradas em Wikipedia
Ler neste blogue: biografia de Caravaggio
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