Jean Daniélou: Um regresso às fontes
No ano de 1967 dizia Jean Daniélou em “Evangelho e Mundo Moderno”, ao falar do amor, que «a caridade cristã abrange todo o homem, mas precisamente porque o abrange totalmente, vê-o à luz do que lhe dá a plenitude, a sua vocação de eternidade». O padre Daniélou sabia do que falava, pois sendo filho de um anticlerical podia entrever de perto no que poderia consistir a ausência desta vocação para o eterno. Seu pai, Charles Daniélou fora deputado e ministro da 3.ª República francesa. Sua mãe, Madeleine Daniélou, era uma mulher cristã que fundou o Instituto de Santa Maria e uma universidade feminina gratuita.
Jean Daniélou nasceu no dia 14 de maio de 1905 em Neuilly-sur-Seine, França. Realizou os seus estudos primários e secundários na sua cidade natal, para os continuar na Sorbonne onde termina a licenciatura em Letras e faz a agregação em Gramática no ano de 1927, tornando-se professor associado da mesma disciplina. E no ano de 1929 entra na Companhia de Jesus em Laval, onde fará os seus votos a 21 de novembro de 1931.
Após os estudos de teologia na Universidade Católica de Lyon, é ordenado sacerdote a 24 de agosto de 1938 e no ano de 1941, em plena 2.ª Guerra Mundial, volta a Paris para dar início ao seu doutoramento no Instituto Católico da capital francesa.
Durante este tempo é simultaneamente capelão do Grupo Católico de Letras e da Escola Superior Feminina de Sèvres. No ano de 1942 publica um pequeno livro intitulado “Le Signe du Temple ou de la Présence de Dieu”. Dado que o seu interesse intelectual e académico versava sobre os Padres da Igreja, Daniélou dá início em 1941, com o padre Henri de Lubac, à coleção “Sources chrétiennes”, cujo primeiro volume foi “La vie de Moïs”, de São Gregório de Nissa, publicado em 1943. Em 1944 termina o seu doutoramento com uma tese sobre a espiritualidade daquele santo, tornando-se nesse mesmo ano professor de História das Origens do Cristianismo, no Instituto Católico de Paris.
Em 1961 o padre Daniélou torna-se decano da Faculdade de Teologia daquele Instituto e no ano seguinte, quando tem início o 2.º Concílio Ecuménico do Vaticano, é chamado a participar como “perito”, tendo trabalhado no documento “Gaudium et Spes”, sobre a relação da Igreja no mundo. Quatro anos após terminar o Concílio é ordenado bispo em Paris, no dia 21 de abril de 1969, sendo nomeado cardeal pelo Papa Paulo VI sete dias depois da ordenação episcopal. No ano de 1972, a 9 de novembro, o cardeal Daniélou é eleito membro da Academia Francesa, tendo sido oficialmente recebido na mesma no dia 22 de novembro de 1973, um ano antes da sua morte.
O cardeal Daniélou foi autor de numerosas obras no campo da História da Igreja no que diz respeito às suas fontes (“Origéne” [1948]; “Histoire des doctrines chrétiennes avant Nicée” em 3 volumes [1958]; “Les origines du christianisme latin”; “L’être et le temps chez Grégoire de Nysse” [1970]), contribuindo assim para um regresso às fontes histórico-patrísticas do cristianismo, do qual ainda hoje somos devedores e beneficiários, pelas preciosas e rigorosas edições das “Sources chrétiennes”.
Por L. Oliveira Marques in SNPC
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