Começa hoje o Terras sem Sombra
"Momentos de Espiritualidade na Música Ocidental" marcam regresso do Festival Terras Sem Sombra
O festival de música sacra “Terras sem Sombra” desafia este ano os participantes a embarcarem numa peregrinação pelo património cultural e natural do Baixo Alentejo. A sétima edição do certame, que se realiza entre 19 de março e 9 de julho, tem como tema “Peregrinação interior – Momentos de Espiritualidade na Música Ocidental – Séculos XVII – XXI".
Complementada por um conjunto de conferências e visitas guiadas, a música sacra vai funcionar como uma «aliada» da diversidade patrimonial da região, segundo o diretor do Departamento do Património Histórico e Artístico da diocese de Beja (DPHA), José António Falcão.
Em declarações à Agência Ecclesia, o responsável sublinha que a iniciativa «rompe fronteiras» e «atrai públicos diversificados», ajudando a criar nas igrejas históricas da região «um espaço ecuménico» e de «diálogo em torno da espiritualidade».
Além de veículo de sensibilização cultural, o DPHA olha para a música sacra como uma oportunidade de chamar a atenção para a preservação da natureza, numa época em que «se gastam demasiados recursos» e se arrasta nessa «batalha» a «destruição de muitas particularidades» do património natural.
A abertura do festival ocorre a 19 de março, pelas 17h00, na igreja de Nossa Senhora dos Prazeres, em Beja, com a conferência “Peregrinação e Música”, proferida por Rui Vieira Nery, da Universidade de Évora.
Os concertos realizam-se sempre ao sábado, e no domingo seguinte o DPHA vai organizar ações de conservação da natureza, com a participação dos músicos, escolas e população local.
José António Falcão exemplifica com «a colocação de ninhos, feitos em cortiça, em sobreiros e a ajuda na preservação de peixes que estejam em extinção» na região alentejana.
O arquiteto perspetiva uma grande participação nas diversas iniciativas do festival, à semelhança das edições anteriores: «Há sempre um envolvimento grande por parte das paróquias, das autarquias, de outros órgãos da região, temos sido muito acarinhados neste trabalho».
Com um novo diretor artístico, Paolo Pinamonti, antigo diretor do Teatro Nacional São Carlos (Lisboa), e que até aqui dirigia o Festival Mozart da Corunha, o passo seguinte é a internacionalização definitiva do certame.
Em declarações à rádio Voz da Planície, Pinamonti afirmou que aceitou o desafio pelas características do festival, que «não é apenas um conjunto de concertos, já que concilia um conceito de património no sentido mais lato do termo, como seja património natural, património artístico e arquitetónico, da própria música e a defesa desse mesmo património».
Os seis concertos, em que três temas serão em estreia – dois dos quais em Portugal e Espanha – e um em estreia absoluta, vão trazer a Portugal nomes importantes como a soprano espanhola Maria Bayo, o cravista francês Piere Hantaï e o Coro da Arena de Verona.
No concerto de abertura vai ser estreada uma composição da autoria do jovem compositor português Alexandre Delgado, uma forma de «fazer uma aproximação entre a música do passado e do presente», realça José António Falcão.
A composição “Peregrinação Interior: Cinco Sonetos Quinhentistas para soprano e piano”, a partir de sonetos de Camões e outros poetas quinhentistas, faz parte do programa do concerto de abertura – “Ad Limina” –, agendado para 2 de abril na igreja de Santiago Maior, em Santiago do Cacém, com interpretações de María Bayio e Divino Sospiro.
“Peregrinações – No 3.º Centenário de D. Maria Bárbara, princesa de Portugal e rainha de Espanha” é o nome do segundo concerto, com a participação de Pierre Hantaï, a 16 de abril na igreja Matriz de Santo Ildefonso (Almodôvar).
A terceira sessão, “Para Lá do tempo”, decorre a 30 de abril na Basílica Real de Nossa Senhora da Conceição, em Castro Verde, contando com interpretações do Coro da Arena de Verona e Alexandre Delgado, entre outros.
“Diálogos” é o título para o concerto de 28 de maio na Igreja Matriz de São Cucufate, em Vila de Frades (Vidigueira). Entre outros participam os pianistas Miguel Borges Coelho e Marta Zabaleta.
“Leste/Oeste”, com composições de Sofia Gubaidulina, na igreja de Nossa Senhora da Assunção, em Grândola, a 18 de junho, e “En Plein Air”, a 9 de julho, na igreja da Misericórdia de Beja, com a Banda Filarmónica da GNR e o tenor Mário João Alves, completam o programa.
Desde a sua criação, em 2003, o “Terras sem Sombra” tem vindo a despertar cada vez mais interesse entre o público nacional, contando também com uma importante fatia de visitantes das regiões espanholas da Estremadura e Andaluzia.
José Carlos Patrício (Agência Ecclesia), Rádio Voz da Planície, Rui Martins
in SNPC
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