Yves Congar: entre a paciência e a esperança
Embora se considerasse um homem impaciente, Yves Marie Joseph Congar afirmou: «As pessoas que têm muita pressa, que desejam compreender o objeto dos seus desejos imediatamente, são incapazes de o fazer. O semeador paciente, que confia a sua semente à terra e ao sol, é também o homem de esperança. Coventry Patmore disse também que o homem que espera que as coisas se revelem em si mesmas, demonstra ter a coragem de não negar na escuridão o que viu na luz».
O teólogo dominicano nasceu a 8 de abril de 1904 em Sedan, França. Durante a Primeira Guerra Mundial a sua casa é ocupada pelos alemães e o jovem Congar escreve vários diários sobre a longa permanência germânica.
Durante os anos 20, após o armistício, passa três anos num convento carmelita, onde encontra a filosofia tomista veiculada pela leitura das obras do filósofo católico Jacques Maritain e de Lagrange. Mais tarde sente-se atraído pela vida beneditina, o que o leva a passar algum tempo com esta congregação. Em 1925, nova mudança: entra no noviciado dos frades dominicanos em Amiens, de onde não voltaria a sair.
Terminado o noviciado, segue os seus estudos teológicos no Seminário de Le Saulchoir in Etiolles, perto de Paris, onde se fazia sentir a preponderância dada à teologia histórica e onde tem como professor Marie-Dominique Chenu.
Sente-se chamado a trabalhar na causa ecuménica. Após a ordenação sacerdotal, em 1930, escolhe como tema da sua tese “A Unidade da Igreja”, pela qual haveria sempre de se bater.
Enquanto docente no Seminário de Le Saulchoir toma contacto com o teólogo protestante Karl Barth, de quem se torna amigo. Na primavera de 1932 conhece D. Lambert Beauduin, que a pedido do Papa Pio XI havia fundado um mosteiro de monges de rito oriental e ocidental. Ainda em 1932 conhece o Abbé Courtier, que foi o preponente da oração universal pela unidade dos cristãos. Desta amizade nasce o convite feito em 1936 a Congar para realizar um conjunto de sermões no primeiro Oitavário pela Unidade dos Cristãos, na histórica paróquia do Sacré Coeur, em Paris. Estas pregações estiveram na origem, em 1937, do seu livro “Cristianismo dividido: um estudo católico sobre o problema da reunião”. O livro chamou a atenção da autoridade eclesial. As suas intervenções sobre a unidade do cristianismo tornam-se um aspeto importante na sua vida e no seu ministério.
Em 1939, início da 2.ª Guerra Mundial, foi chamado para o exército francês, como capelão. De 1940 a 1945 foi feito prisioneiro de guerra pelos alemães em Colditz.
Após o conflito, Congar continuou a ensinar e a escrever, tornando-se um dos mais influentes teólogos católicos em matéria de eclesiologia e ecumenismo, influenciando inclusive o pensamento de Karol Wojtyla, futuro papa João Paulo II.
Em 1947 vê recusado o pedido de publicar um artigo que lhe fora encomendado pelo Conselho Mundial da Igrejas. E durante o pontificado de Pio XII é proibido de ensinar e publicar. Em obediência, retira-se no ano de 1954 para Jerusalém.
Após a eleição do cardeal Roncalli para papa (João XXIII) dá-se a convocação do 2.º Concílio Ecuménico do Vaticano. O padre Congar foi, em 1960, consultado para as comissões de preparação. Tomou parte do Concílio (1962-1965) como perito. Ao que parece é notória a sua influência em muitos dos documentos finais.
Viria a ser ‘feito’ cardeal pelo papa João Paulo II, no ano de 1994, mas por impossibilidade de saúde não pôde tomar parte no consistório.
Yves Congar morreria a 22 de junho de 1995, com 89 anos de idade. A sua vida foi como a do sementeiro paciente que soube aliar à paciência e à cruz a virtude da esperança: «A cruz é a condição de toda a obra sagrada. Deus está no trabalho, que nos parece uma cruz. Apenas por seu intermédio as nossas vidas adquirem uma certa autenticidade e profundidade… Só quando um homem sofreu pelas suas convicções é que ele reconhece nelas uma certa força, uma certa qualidade do inegável, e ao mesmo tempo, o direito de ser ouvido e respeitado».
L. Oliveira Marques
in SNPC
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