Pastoral Homossexual
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As palavras e a Razão
Sobre a "Carta sobre o atendimento pastoral das pessoas homossexuais" - lê-la aqui.
"[...] Como todos os textos deste tipo, a Carta possui, também, uma observação final:
"O Sumo Pontífice João Paulo II, no decurso da Audiência concedida ao Prefeito abaixo-assinado, aprovou e ordenou a publicação da presente Carta, decidida em reunião ordinária desta Congregação."
[...] Acho louvável a própria iniciativa da Igreja de se ocupar com as pessoas homossexuais. É claro que a questão seguinte é: como fazer isso? Confesso que li a Carta diversas vezes e não encontrei uma resposta clara. O que sobressai (para mim, de uma maneira bastante irritante) é a cautela, para não dizer o medo. É uma preocupação impregnada ao longo do texto inteiro. Como se a Igreja dissesse aos bispos e padres que, por acaso, se quisessem aventurar numa tal atividade: "Tudo bem, vocês tem a nossa autorização, mas saibam que, certamente, vão-se queimar! Por isso, pensem bem, antes de começar esse história!".
Outra coisa [...] é a referência à ciência:
"Naturalmente, não se pretende elaborar neste texto um tratado exaustivo sobre um problema tão complexo. Prefere-se concentrar a atenção no contexto específico da perspectiva moral católica. Esta encontra apoio também nos resultados seguros das ciências humanas, as quais, também, possuem objecto e método que lhes são próprios e gozam de legítima autonomia." (in "Carta sobre o atendimento pastoral das pessoas homossexuais", alínea 2)
Em seguida, acrescenta-se: "a Igreja está em condições não somente de poder aprender com as descobertas científicas, mas também de transcender-lhes o horizonte; ela tem a certeza de que a sua visão mais completa respeita a complexa realidade da pessoa humana que, nas suas dimensões espiritual e corpórea, foi criada por Deus e, por sua graça, é chamada a ser herdeira da vida eterna." (idem)
[...] Eu acredito na importância da ciência nesta questão toda, pois é dela que surgem argumentos para o diálogo. Entretanto, o texto da Carta, mesmo tendo falado sobre o "fenómeno da homossexualidade" (a expressão que pode sugerir um "olhar científico), surpreende depois com a seguinte afirmação: "Alguns afirmam que a tendência homossexual, em certos casos, não é fruto de uma opção deliberada e que a pessoa homossexual não tem outra alternativa, sendo obrigada a comportar-se de modo homossexual. Por conseguinte, afirma-se que, em tais casos, ela agiria sem culpa, não sendo realmente livre."
A minha reação imediata para tal opinião não pode ser citada aqui literalmente, pois lembra bastante os gritos de adeptos numa partida de futebol. Será que é assim que a Igreja "transcende o horizonte da ciência", quer dizer, ignora totalmente as conclusões das suas investigações sérias e multidisciplinares? O termo "certos casos" induz à compreensão que seriam poucos estes casos. Onde está o resto desses casos, ou seja, aqueles que se tornaram "deliberadamente" gays e lésbicas? Que tipo de ser humano escolhe o que sentir? Quem é capaz de escolher a vida marcada pela constante discriminação e perseguição, privando-se de uma "felicidade normal" (abençoada pela Igreja-instituição), com o casamento, família e filhos, além de toda a garantia de sucesso social e profissional?
São, exactamente, estas frases que põem em causa o documento inteiro, apesar de este conter um certo incentivo à criação da Pastoral específica para homossexuais.
Já escrevi, na reflexão anterior, que algum "alívio" em relação às contradições deste documento ser a evolução de pensamento da Igreja como tal. Ainda que esta evolução seja terrivelmente lenta, pelo menos a esperança não morre, por assim dizer.
Para provar isto, cito algumas frases do Catecismo da Igreja Católica (de 1992):
"A homossexualidade reveste-se de formas muito variáveis ao longo dos séculos e das culturas. A sua génese psíquica continua amplamente inexplicada. (...) Um número não negligenciável de homens e de mulheres apresenta tendências homossexuais profundamente enraizadas. Esta inclinação objectivamente desordenada constitui, para a maioria, uma provação." (in CIC, 2357 e 2358 [1]). É muito interessante que, desta vez, não se fale de uma "opção". Talvez a razão tenha, finalmente, funcionado..."
por Teleny in retorno (G-A-Y)
[1] tradução em português do Brasil, adaptada para português de Portugal
Ler neste blogue:
Pastoral Homossexual 1: http://moradasdedeus.blogspot.com/2011/03/nos-anos-80-igreja-deve-acompanhar.html
Pastoral Homossexual 2: http://moradasdedeus.blogspot.com/2011/03/o-problema-de-considerar.html
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