Foto: AP |
Paul Claudel: a poética de Deus
Vida e obra
Sobre a inspiração poética disse Paul Claudel: «o talento poético, a inspiração poética, é como a profecia, uma graça». Para este poeta, diplomata e dramaturgo do século XX, o grande motor da poesia, dado pela religião a par com o «significado» e a «dramática», é o «louvor», uma vez que ele representa a «mais profunda necessidade da alma, a voz da alegria e da vida».
Nascido em França a 6 de julho de 1868 em Villeneuve-sur-Fère, numa família de agricultores e funcionários do governo, o pai de Paul Claudel, Louis-Prosper, dedicava-se a hipotecas e transações bancárias. Enquanto que a sua mãe, Louise Cerceaux trabalhava na agricultura, pois era oriunda de uma família católica de agricultores de Champagne, existindo até sacerdotes católicos na família. Paul Louis Charles Marie Claudel seria batizado no dia 11 de outubro de 1868. Todavia, os pais de Claudel, segundo o testemunho do próprio, eram indiferentes em matéria religiosa.
Claudel passou os primeiros anos da sua vida em Champagne, onde morava. A princípio foi instruído por um professor particular, tendo passado depois para o liceu de Bar-le-Duc e para o liceu Louis-le-Grande em 1881, quando os seus pais se mudaram para a Paris. É na escola da “Cidade das Luzes” que perde a fé, pois considerava-se um naturalista, um monista e um materialista influenciado pelos pensadores da época, inclusive pela leitura da “Vida de Jesus” de Renan. O sofrimento e a morte do avô, que sofria de cancro, serão vividos pelo jovem Paul com dramatismo e angústia, ganhando pavor da morte.
O «primeiro brilho da verdade», como dirá, veio-lhe da leitura de um grande poeta de época de seu nome Artur Rimbaud, nomeadamente, a leitura de dois textos:“Illuminations” e “Une saison en Enfer”.
Aos 18 anos, angustiado e desesperado, a 25 de dezembro de 1886, entra na catedral de Notre-Dame de Paris, onde toma parte na missa cantada, com moderada alegria. Voltando à sé ao final da tarde para as Vésperas de Natal, entra quando começa o cântico evangélico do ‘Magnificat’, cantado por meninos do coro e jovens seminaristas. E nesse momento dá-se uma conversão súbita e «fulminante». Dirá Paul Claudel no ano de 1913 em “A Minha Conversão”: «Ali se deu o acontecimento que domina toda a minha vida. Num momento, o meu coração sentiu-se tocado, e tive fé (…) não ficava margem para nenhuma espécie de dúvida».
A verdade é que aconteceu na vida deste “poeta de Deus e do homem” aquela experiência dramática, de significado e de louvor que parece conter a poética de Deus e que ele próprio tão bem soube expressar.
Paul Claudel estudará em Paris, no Instituto de Estudos Políticos, embora tenha pensado entrar para os Beneditinos. Em 1893 começa a sua carreira diplomática, que continua até 1936.
A 15 de março de 1906 casa-se com Reine Sainte-Marie Perrin. Depois de ser cônsul em vários pontos do globo, Claudel terminará a sua carreira em Bruxelas. Durante o tempo da magistratura diplomática, revela-se um grande dramaturgo e poeta cristão. Assim, utilizou o cristianismo, na sua confissão católica, como base do seu pensamento e da sua escrita poética e dramática.
A tetralogia “Le Soulier de Satin” (composta entre 1914 e 1924 e estreada em 1943) é uma obra de arte que integra texto, música e dança. Na peça “L´Échange”(1910), Claudel problematiza pela primeira vez o conflito de uma mulher que se debate entre amor e casamento.
Além de romances, peças teatrais e ensaios, compôs também poemas que foram buscar inspiração à poesia bíblica. Em 1946 foi escolhido como membro da Academia Francesa. Morre a 23 de fevereiro de 1955, deixando uma obra de prosa, poética e dramática enorme, cuja influência depressa se fez sentir.
L. Oliveira Marques
In SNPC
Sem comentários:
Enviar um comentário